Arroz parboilizado: protagonismo da Cientec – O relato

 Arroz parboilizado: protagonismo  da Cientec – O relato

O INÍCIO DE UMA BELA TRAJETÓRIA
A pesquisa da parboilização do arroz no Brasil nasce na Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec) na década de 1970.
Ocorre quando um dos líderes da indústria do arroz, Alfredo Albino Treichel, chega no departamento de alimentos com duas amostras:
– Peço que alguém me diga qual é o parboilizado e qual é o macerado.
(Treichel rotulara as amostras ao contrário de seus conteúdos!).
Passado uns dias, nossa resposta ao cliente é lacônica:
– Não conseguimos decifrar… mas seguimos pesquisando.
Treichel sorri e diz:
– Andei por laboratórios até na Alemanha, mas todos confirmaram de acordo com o rótulo. Vocês foram corretos!
Estava formada uma parceria para as próximas décadas.

PRINCIPAIS ATIVIDADES DE PESQUISA E EXTENSÃO DA CIENTEC

Parcerias com o setor produtivo

Da demanda anterior nasce uma forte interlocução com os engenhos de parboilização.
A parceria é solidificada em 1986 com o surgimento da Associação Brasileira de Indústrias de Arroz Parboilizado (Abiap).
A Cientec participa do estabelecimento de critérios técnicos para a criação de um novo paradigma internacional: o Selo de Qualidade Abiap.
São introduzidos critérios de boas práticas de fabricação nos engenhos associados.
Cinco encontros nacionais sobre o parboilizado são realizados, sempre com palestrantes do exterior: Espanha, Estados Unidos, China e América Latina.

Extensão industrial
No período 1988-1991 a Cientec desenvolve trabalho de extensão industrial sob o patrocínio do Ministério de Indústria e Comércio abrangendo mais de 200 engenhos de parboilizado no país.
E os engenhos passam a adotar critérios de “fábrica de alimentos”. E isso passa a qualificar a exportação!

 

Revelação internacional sobre ganho em massa na parboilização

Em 2002, no encontro da Waitro (World Association of Industrial and Technological Research Organizations), pesquisas da Cientec consagram um ganho de 3,8% em massa. O processo hidrotérmico da parboilização mantém o gérmen, a parte mais nobre do grão, aderido. 

O método da luz polarizada permite avaliar ganhos nutricionais

Desenvolvimento pioneiro da Cientec passa a permitir a quantificação de acréscimos nutricionais em função da intensidade de gelatinização na parboilização.

Com facilidade, rapidez e precisão substitui equipamentos caríssimos.

Nota: o método está presente em uma centena de publicações técnicas, dissertações de mestrado e teses de doutorado da Ufpel.

 

A novidade, resumida abaixo, é apresentada em reuniões da FAO de 2009 e de 2011.

 

Gráfico do acréscimo de vitamina B9 (ácido fólico)


 

Fonte: LabBGrãos/Ufpel

Meio ambiente: casca e efluente líquido

Aproveitando patentes em leito fluidizado, a Cientec viabiliza o aproveitamento da casca para combustão e secagem de grãos, hoje praticado em engenhos na América Latina.

A casca está disponível à “distância zero” do engenho. Sua queima reduz em 23 vezes o impacto na camada de ozônio quando comparada à deposição (geradora de CH4 e CO) no solo.

Também desenvolve meios para mitigar o impacto ambiental da água descartada no processo.

Parboilizado – Legislação nacional e internacional

A Cientec tem sido referência no estabelecimento de regulamentos técnicos oficiais desde 1986 para o Brasil e Mercosul.

Estabelece parâmetros de processamento e de higiene que resultam em salto no consumo nacional do parboilizado de 4% para 20-25% em uma década. 

Livros técnicos

São quatro os livros publicados no mundo sobre a tecnologia de parboilização.

O primeiro é do italiano Franco Gariboldi (1974).

Os outros três são da Cientec (1991, 2002 e 2005).

E no início de 2017 está lançando dois eBooks:

– “Termos técnicos do arroz”, glossário com 500 verbetes comentados

– “Arroz no programa mundial de alimentação das Nações Unidas” (português e espanhol) 

 

Concluindo

– O método da luz polarizada permite responder ao questionamento inicial do seu Treichel e do setor produtivo. 

– Os avanços tangíveis (ganho de massa e no tempo de prateleira) geram emprego, renda e impostos. 

Os intangíveis (acréscimos em vitaminas e minerais e redução no índice glicêmico), silenciosamente, seguem agregando saúde. 

– E o futuro da geração de conhecimento: como colher o que não foi plantado? 

O ano de 2017 recebe a Cientec, aos 75 anos, com o Estado propondo sua extinção. A proposta rompe um ciclo de geração de conhecimento. O Homo, desde que é sapiens, tem consciência de que hoje colhe o fruto do seu trabalho acrescido do plantado por gerações anteriores. 

Assim ocorre sempre, ou até que a Terra pare de girar. O silêncio dos laboratórios tem que atender ao ruído das ruas e dos campos. Calar o plantio do conhecimento é condenar a colheita do progresso social e econômico!

 

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